Ainda que tenhamos avançado muito nos últimos tempos com o tema da sexualidade, desmistificando tabus e mostrando a acessibilidade e benefício do sexo como um todo na qualidade de vida, é comum nos depararmos com pensamentos que levem a acreditar que a pessoa com deficiência é praticamente assexuada, como se não houvessem possibilidades alguma de haver prazer à essas pessoas.
A sexualidade se refere a vários aspectos, incluindo emoções, auto imagem, valores, além de ações e percepções relacionadas à vida afetiva e sexual propriamente dita, mostrando que está intimamente ligada à concepção cultural também. E por mais que haja uma diversidade grande de patologias que se enquadram na “deficiência física”, é fato que uma grande parte delas não impede o indivíduo de desenvolver esses aspectos citados acima. Ou seja, a deficiência de mobilidade não deve ser vista como algo que impede o desenvolvimento da sexualidade, pelo contrário, deve abrir as nossas cabeças para enxergar quanta potência ainda pode ser explorada. Mesmo pessoas acometidas por uma lesão medular, por exemplo, podem desenvolver novas áreas de sensibilidade e prazer em regiões acima da lesão, uma vez que as zonas erógenas podem mudar ao longo da vida.
Os mitos mais comuns relacionados a sexualidade da pessoa com deficiência são os que dizem que esses indivíduos são assexuados, olhando-os de forma infantilizada, relacionando dependência e imaturidade com a deficiência; ou que são “hiperssexualizadas”, e seus desejos são exacerbados, incontroláveis e, dessa forma visto como perversão; ou ainda que todas terão disfunções sexuais e não conseguirão atingir orgasmos e nem ter prazer por não conseguir relação sexual com penetração. Por mais que a deficiência possa comprometer a resposta sexual em muitos casos, não impede que o indivíduo tenha sua sexualidade bem cultivada e desfrutada.
A sexualidade normativa muitas vezes é idealizada com uma única maneira de ser vivida e aproveitada, com regras de prática sexual que, por diversas vezes, limitam o olhar tanto na pessoa sem deficiência quanto na pessoa com deficiência de mobilidade. Portanto é importante que as pessoas que não possuem deficiência se conscientizem e auxiliem no empoderamento das que possuem deficiência, a fim de que sejam potencializadas como protagonistas também em sua sexualidade, com prazer e satisfação sexual.
Fisioterapeuta Julia Marcondes – CREFITO 3/277754-F
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