Gigliola Macchi - Fisioterapeuta, Todos

Você sabia que o VIBRADOR, antes de ser um “brinquedo sexual” de cunho pornográfico, já era utilizado como auxiliar no tratamento em distúrbios femininos há quase dois séculos?

Recentemente, estudiosos fizeram um apanhado literário sobre o “uso do vibrador como ferramenta complementar no tratamento terapêutico nas disfunções sexuais” e descobriram que esta utilização vem de muito antes do que se imaginava.

Sabe-se, hoje, que as disfunções sexuais, especialmente femininas, possuem grande relevância, pois impactam diretamente na qualidade de vida dessas mulheres. E toma-se como disfunção qualquer dificuldade e/ou “bloqueio” interferindo na resposta fisiológica de qualquer fase do ciclo de resposta sexual.

Antigamente, em meados do século XIX, durante o reinado da rainha Vitória no Reino Unido, as mulheres apresentavam certas queixas similares que levavam ao diagnóstico de “histeria”. A histeria tratava-se de aflições físicas e psicológicas (“ansiedade, falta de sono, irritabilidade, nervosismo, fantasia erótica, sensações de peso no abdome, edema na parte inferior pélvica e lubrificação vaginal”) oriundas das repressões sociais e religiosas em cima das mulheres nos séculos anteriores, caracterizando, para Freud, como “sentimentos inconscientemente sufocados na infância”.

Para tratar esta doença, médicos da época identificaram uma forma de estimulação na vulva visando o orgasmo, que poderia ser feita pelo próprio médico ou pelo “marido”, caso a mulher fosse casada, porém sem nenhum caráter sexual, somente terapêutico. No entanto, tal manipulação acabou ocasionando outro problema, dessa vez por parte dos médicos, com cansaço e dores nas mãos, pois o procedimento poderia levar cerca de uma hora ou mais.

Foi então que surgiu o primeiro vibrador a vapor, por George Taylor em 1869, que aceleraria o efeito do método manipulativo. Porém, o mecanismo a vapor se mostrava falho em muitas situações, o que levou a necessidade de aperfeiçoamento do aparelho, como em 1880 com o surgimento do vibrador movido a manivela e, no início do século XX, começaram a surgir os modelos elétricos até os atuais sustentados por baterias.

Por volta de 1920 os vibradores passaram a ser banalizados como objetos de prazer sexual, surgindo modelos e formatos dos mais variados possíveis, também com versões masculinas, e passou-se a esquecer o verdadeiro objetivo para que foram criados. Com essa nova visão, as “mulheres de bem” não poderiam mais usufruir de tal produto. Concomitante a isso, iniciavam-se estudos específicos sobre anatomia feminina e sua sexualidade que, desde então, não cessam de inovações e desconstrução da visão repressiva do assunto, bem como do uso de vibrador e demais dispositivos com finalidade terapêutica.

Atualmente, apesar de uma maior facilidade em canais informativos, ainda se encontra muitos mitos e tabus sobre a sexualidade feminina e o autoconhecimento íntimo que geram diversos tipos de disfunções sexuais que, muitas vezes, podem ser solucionadas com os mais variados recursos da fisioterapia pélvica, incluindo o uso do vibrador.

 

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Gigliola Macchi 
Fisioterapeuta
CREFITO 2: 139277-F
Campos dos Goytacazes – RJ

 

 

Referencias:
RUPP, Karin; TESSARIOLI, Graça Margarete S.; SILVA, Luis Antônio. O uso do vibrador como ferramenta complementar no tratamento terapêutico nas disfunções sexuais. In: VOLPI, José Henrique; VOLPI, Sandra Mara (Org.) 23º CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS. Anais. Curitiba: Centro Reichiano, 2018. [ISBN – 978-85-69218-03-6]. Disponível em: http://centroreichiano.com.br/anais-dos-congressos.  Acesso em: _08_/_04_/_2021_.

Uma ideia sobre “Você sabia que o VIBRADOR, antes de ser um “brinquedo sexual” de cunho pornográfico, já era utilizado como auxiliar no tratamento em distúrbios femininos há quase dois séculos?

  1. celeste_cabral disse:

    Muito interessante esse artigo!

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