Não sei se vocês lembram, parece que fazem anos, mas quando a pandemia começou, a ideia de quarentena para o casal não era de todo ruim. O home office pouparia o tempo do trânsito, daria finalmente para fazer aquela faxina em casa e , na vida à dois…O confinamento em casal poderia dar espaço a todo tipo de estripulia sexual. Bom, mas aí aconteceu a vida real…Porém, estudos atuais mostram que o ficar mais próximo não ajudou. Casais quarentemados acabaram transando menos porque começaram a discutir muito mais. A vida da maioria das pessoas passou por mudanças dramáticas na rotina. Ou seja, acesso reduzido a atividade física, escassez de meios sociais fora de casa, acesso limitado a cuidados de saúde mental e outros serviços de saúde considerados não essenciais.
Sem dúvida nenhuma, o distanciamento social e as dificuldades impostas pela pandemia trouxeram desafios inéditos para a vida dos casais, que se viram obrigados a fazer um balanço da relação e a reforçar ou até romper laços. O número de divórcios aumentou 15% em relação há 2019. A pandemia trouxe à tona sentimentos e concepções individuais que dividiram os casais claramente, desde o enfoque sobre a gravidade do covid, até a postura sobre o ficar junto e o se afastar, ambos com o objetivo de cuidar.
Começamos a perceber uma divisão entre crenças e o negacionismo entre os casais. A tônica da pandemia estava em: não se sentir tão cuidada ou cuidado quanto gostaria. Deixando claro que o conflito, geralmente ligado à falta de comunicação, já existia no convívio do casal, a pandemia só ajudou a escancara o problema. Outro aspecto importante nesse momento atual foi o aumento da carga de trabalho doméstico que é diretamente proporcional à falta de tesão. Se tem algo que concorre com a vida sexual é o cansaço; outro é a falta de espaço reservado para o sexo. As funções do quarto deixaram de ser para dormir e transar. E agora passaram a ser lugar de comer, crianças brincar, pra trabalhar…Teve uma quebra do simbolismo do espaço. Outra percepção que a pandemia nos trouxe foram as diferenças ligadas ao tempo de relacionamento. Entre os casais recentes, teve muita gente que se descobriu sexualmente, entraram em uma vibe de se desenvolver mais na área de sexualidade, destruindo os tabus. Claro que, para isso ocorrer precisa ter disposição e investimento de ambos. Já para casais há mais tempo juntos, a rotina sem muitas novidades contribuiu para minar a libido. O sexo que já era muitas vezes escasso começou a se tornar uma tensão. Sem falar de problemas financeiros e até o desemprego, que costumam afetar muito as relações.
O que proponho aos casais é trabalhar com uma janela de tolerância. Essa, sendo interna e externa. Aceitar os próprios processos e ter mais compreensão com o parceiro que também tem suas carências. Outra orientação boa que demonstra uma melhora significativa no relacionamento, ocorre quando se permite mais autonomia para cada membro do casal. Outra proposta é a busca pela terapia de casal, que não deve ser vista como a última opção, o “ bote salva vidas “ antes do divórcio. Ou até uma espécie de atestado que o casamento fracassou e agora precisa de “ um milagre “ para sobreviver.
Então, respira, conversa, tira aquela faxina do papel e quem sabe a comemoração do dia pode ser na cama.